Precisamos falar sobre o Kevin - Lionel Shriver
Autor: Lionel Shriver
Editora: Intrínseca
Páginas: 464
Ano: 2012
ISBN: 9788580571509
Sinopse: Para falar de Kevin Khatchadourian, 16 anos, Lionel Shriver não apresenta apenas mais uma história de crime, castigo e pesadelos americanos: arquiteta um romance epistolar em que Eva, a mãe do assassino, escreve cartas ao marido ausente. Nelas, ao procurar porquês, constrói uma reflexão sobre a maldade e discute um tabu: a ambivalência de certas mulheres diante da maternidade e sua influência e responsabilidade na criação de um pequeno monstro. Precisamos falar sobre o Kevin discute casamento e carreira; maternidade e família; sinceridade e alienação. Denuncia o que há de errado com culturas e sociedades contemporâneas. Um thriller psicanalítico no qual não se indaga quem matou, mas o que morreu. Enquanto tenta encontrar respostas para o tradicional onde foi que eu errei? a narradora desnuda, assombrada, uma outra interdição atávica: é possível odiarmos nossos filhos?
[Nota Pessoal]
Eu recebi esse livro de presente de Natal da autora Rô Mierling. Confesso que estava bem ansiosa para começar a leitura porque há tempos eu queria esse livro. Achei que eu demoraria mais para lê-lo, mas finalmente, eu li sobre o Kevin.
Talvez você comece a leitura e pense: "Nossa, que chato". Não se preocupe, foi assim comigo também. Mas, força! Acredite em mim, vai dar certo. Se Lionel passa muito tempo detalhando a infância de Kevin ou falando sobre a indiferença que ele sente pela mãe ou o arrependimento que a mãe sente pelo filho, é porque é importante. Pode ter certeza.
"Caso eu tivesse enumerado as desvantagens da procriação, "filho pode acabar sendo um assassino" jamais teria aparecido na lista." p. 38
Primeiro, temos Eva, uma mãe que não ama seu filho. Ela tenta o tempo todo se justificar, uma vez que Kevin também não a ama. Por não conseguir ter essa relação com o filho, ela se afasta de Franklin, seu marido, que tem um relacionamento completamente oposto com a criança. As coisas começam a piorar um pouco quando Eva engravida novamente contra a vontade do marido. Ela se mostra determinada a provar para si mesma que não é uma mãe horrível. Mas, dessa vez, quem não recebe tão bem o bebê é Franklin e, é claro, Kevin.
Eva parece ser a única pessoa que percebe a maldade nos atos do filho. Talvez por não existir amor entre eles, ela consiga enxergar como se fosse alguém de fora. Ela tenta alertar Franklin diversas vezes, mas ele sempre protege e justifica as ações do filho. Dentro disso tudo, fica difícil saber de quem é a culpa pelo que Kevin está se tornando.
Já conversei com pessoas que culpam Eva, outras que culpam o pai, e eu voto pelos dois. Não os culpo completamente, porque eu creio que a condição do Kevin está relacionada a uma herança psicológica. Como assim? Então, vamos começar pela mãe de Eva. Ela sofre de síndrome do pânico e não sai de dentro de casa há anos. Parte das memórias de Eva relatam as "coisas de adulto" que ela tinha que fazer quando criança porque a mãe tinha medo de sair. É possível sentir no relato dela que existe um sentimento de infância perdida por ter que passar a maior parte do tempo fazendo as coisas que a mãe tinha medo. Eva, por sua vez, se mostra um adulto vulnerável psicologicamente. É completamente perceptível que ela possui problemas mal resolvidos, tanto com Kevin quanto com ela mesma. Acredito que Eva tenha medo de ser como a sua mãe, que, para ela, era uma mãe ruim.Também achei que ela possuiu uma raiva reprimida por conta da sua infância e, de alguma maneria, Kevin a fazia liberar essa raiva, coisa que ela tinha medo que acontecesse. Pode ser que eu esteja falando merda (psicólogos de plantão, corrijam-me), mas isso me leva a crer que Kevin já possuía esses mesmos problemas, só que de uma maneira mais grave.
"Desde a pré-escola, Kevin sempre foi um conspirador. Ele sabia aguardar o momento propício." p. 181
Tenho uma confissão a fazer: eu tinha uma vontade louca de dar uns tapas na cara do Franklin, juro! Mesmo que não seja intencional (o que nunca era o caso de Kevin), eu acredito que o filho deve saber que o que fez é errado e etc. Todo aquele papo de pais. Mas, Franklin é um babaca!! Ele sabe que o que Kevin fez é errado e inaceitável, mas não toma uma atitude de pai. Sempre passa a mão na cabeça do filho e, nem ao menos, tenta repreendê-lo. E quando Eva tenta, ele tira completamente a autoridade dela NA FRENTE DO FILHO! Ele não parecia pai, mas sim um amiguinho de Kevin que apenas ria das brincadeiras (de mal gosto) que o amigo fazia.
Bom, o livro é escrito em forma de cartas de Eva para seu marido. Logo no início, percebe-se que ela está relembrando o passado, que eles não estão mais juntos e que alguma coisa muito trágica acontece. (Sei que muitos já devem ter visto o filme ou já conhecem a história de tanto que ela foi comentada, mas ainda assim não vale dar spoiler, afinal sempre tem alguém que não sabe o enredo). Apesar das cartas alternarem entre o passado e o presente, é bem fácil distinguir de qual momento Eva está se referindo.
Algumas crianças nascem más! Esse é um assunto polêmico, que muitas pessoas não comentam e que outras se negam a acreditar. Mas, Lionel relata essa história com uma enorme maestria, além de mencionar fatos reais, que compara com as atitudes de Kevin. Em momento nenhum ele aponta ou insinua a existência de um culpado pelas coisas que aconteceram, mas isso não impede ninguém de pensar sobre isso ao terminar a leitura. Eu mesma fiquei pensando por um tempo, analisando os fatos, até chegar a uma conclusão por completo. Tentei de uma forma bem resumida explicar o que eu achei. Se eu fosse escrever detalhe por detalhe da minha conclusão, teríamos "Um ensaio sobre o que precisamos falar sobre o Kevin". Enfim...
Não é um livro fácil e não é todo mundo que vai gostar dessa leitura. É intenso; e profundo; e perturbador, mas sensacional.
"Holocaustos não me assombra. Estupros e trabalho escravo infantil não me assombram. Franklin, sei que você pensa ao contrário, mas Kevin também não me assombra. Fico assombrada quando deixo cair uma luva na rua e um adolescente corre dois quarteirões para devolvê-la. Fico assombrada quando a moça do caixa me lança um amplo sorriso, junto com o troco, quando a minha fisionomia era apenas uma máscara apressada. Carteiras perdidas enviadas aos respectivos donos pelo correio, estranhos que fornecem indicações precisas de uma rua, vizinhos que regam as plantas uns dos outros - essas coisas me assombram. Celia me assombrava." p. 250
Se já leu, me diz o que achou. Se ainda não leu, o que achou?
Beijos Literários!
Eu quero muito ler o livro. Depois de saber sua opinião, confirmei que o livro é realmente intetessante. Toda essa trama psicológica me deixa mais na vontade. Mais um pra minha lista de compras mais urgentes, rs
ResponderExcluirHahahaha... Ahhh, essa nossa lista de desejados que nunca tem fim!! haha
ExcluirQue bom que gostou, Sa!! Espero que leia logo!!
Beijos e obrigada pela visita!
Adorei a resenha!
ResponderExcluirLena, fico impressionado como consegue descrever o que sentiu com a leitura, bom, não tenho muito interesse em esse livro, mas me deixou bastante curioso, quem sabe um dia eu não obleia, né?
Parabéns pela resenha, está muito bem montada e escrita!
Beijos literários para você também!!
lendoferozmente.blogspot.com.br
Obrigada, Luan!! Eu fico muito feliz quando sei que gostaram da resenha.
ExcluirComo eu disse na resenha, não é todo mundo que vai gostar dessa leitura. Mas, acho que vale a pena tentar. Vai que... rs
Beijos e obrigada pela visita!
Olá, amei a resenha, e por ela fico curiosa em ler o livro, espero que ele exceda minhas expectativas ^.^
ResponderExcluirVanessa | Blog Closet de Livros
Oi, Vanessa. Que bom que gostou! Também espero que exceda as suas expectativas!!
ExcluirBeijos e obrigada pela visita!