Quando finalmente voltará a ser como nunca foi - Joachim Meyerhoff

12:37 Helena Dias 0 Comments

Livro: Quando finalmente voltará a ser como nunca foi
Autor: Joachim Meyerhoff
Editora: Valentina
Páginas: 352
Ano: 2016
ISBN: 9788565859974

Sinopse: Isso é normal? Crescer entre centenas de pessoas com deficiência física e mental, como o filho mais novo do diretor de um hospital psiquiátrico para crianças e jovens? Nosso pequeno herói não conhece outra realidade - e até gosta muito da que conhece. O pai dirige uma instituição com mais de 1.200 pacientes, ausenta-se dentro da própria casa quando se senta em sua poltrona para ler. A mãe organiza o dia a dia, mas se queixa de seu papel. Os irmãos se dedicam com afinco a seus hobbies, mas para ele só reservam maldades. E ele próprio tem dificuldade com as letras e sempre é tomado por uma grande ira. Sente-se feliz quando cavalga pelo terreno da instituição sobre os ombros de um interno gigantesco, tocador de sinos. Joachim Meyerhoff narra com afeto e graça a vida de uma família extraordinária em um lugar igualmente extraordinário. E a de um pai que, na teoria, é brilhante, mas falha na prática. Afinal, quem mais conseguiria, depois de se propor a intensificar a prática de exercícios físicos ao completar 40 anos, distender um ligamento e nunca mais tornar a calçar o caro par de tênis? Ou então, em meio à calmaria, ver-se em perigo no mar e ainda por cima derrubar o filho na água? O núcleo incandescente do romance é composto pela morte, pela perda do que já não pode ser recuperado, pela saudade que fica - e pela lembrança que, por sorte, produz histórias inconcebivelmente plenas, vivas e engraçadas.

[Nota Pessoal]

Quando finalmente voltará a ser como nunca foi (Ufa!) é narrado pelo filho mais novo do diretor de um hospital psiquiátrico para crianças e jovens. Por morar dentro do hospital com a sua família, o pequeno não conhece outra realidade e, por isso, narra cada momento de sua vida dentro daquela instituição, cada passo que tomou enquanto crescia em meio a pessoas com deficiências físicas e mentais. Um livro que se passa dentro de um hospital psiquiátrico já é por si só bem interessante. Mas quando ele é narrado através dos olhos de uma criança e sua inocência, é ainda melhor. Este foi o principal motivo que me fez solicitar o livro à editora assim que foi lançado.

"Quando a gente está com muita coisa na cabeça, busca respostas concentradas."

A narração começa de uma forma bem inusitada e diferente. Acredito que a principal intenção do autor era mostrar de uma forma impactante - e ao mesmo tempo imediata - suas características de escrita e sua intenção com a história. O brilho do primeiro capítulo não é apenas a forma leve e natural com a qual o autor escreve, mas também a curiosidade e o gostinho de quero mais que o mesmo desperta no leitor. Entretanto, logo no próximo capítulo somos tomados por algo completamente oposto. Não que tenha ficado ruim, mas foi apenas uma introdução para como seria o ritmo da história dali por diante: cheia de altos e baixos. A necessidade de mostrar cada detalhe acerca do protagonista acabou deixando muitos capítulos tediosos e sem o brilho das primeiras páginas. Consequentemente, não tem como saber quando um capítulo vai ser ótimo ou não. Como a história nada mais é que um relato do cotidiano de uma criança e sua família, e como uma família normal, eles têm dias de grandes emoções e dias completamente sem graça. Ao contrário de muitos, não achei isso chato. Na verdade, gostei como é mais realista, mais próximo do cotidiano de qualquer família. 

A escrita carregada de uma essência infantil foi excepcionalmente bem captada pelo autor, conseguindo mostrar algumas situações que, apesar de sem tempero, são muito importantes para o crescimento do personagem, o que só vamos perceber com o avançar da leitura. Ainda assim, achei que alguns capítulos não serviram nem para isso e poderiam ser descartados sem afetar em nada na história. 

"Cada vez mais tenho a impressão de que o passado é um lugar ainda mais inseguro e instável que o futuro. O que deixei para trás deveria ser algo seguro, concluído, que já fora e só esperava para ser narrado, e o que tenho pela frente não deve ser o chamado futuro a ser moldado?"

A importância de todo o desenvolvimento fica claro desde o seu início, mas onde o autor quer chegar com essa trama é uma incerteza. Opa, temos um problema, não é mesmo?! O livro não tem uma reviravolta, não tem um grande conflito para ser resolvido, e isso alimenta a expectativa de que algo muito importante vai acontecer a qualquer momento. Até aí, ok. Acho legal quando um livro consegue manter essa sensação. O problema é que a constante espera acaba, na maioria das vezes, sendo um banho de água fria. Porque a sequência de coisas realmente marcantes só vai acontecer lá pelo final do livro, quando você já desistiu de esperar por algo. Tudo bem que quando acontece, vira uma surpresa e a vontade de largar a história é nula. Mas como a trama já está nas últimas páginas, tudo acaba acontecendo muito rápido, deixando a sensação de que os acontecimentos foram se embolando uns nos outros. Não fica confuso, é possível entender tudo, é como aquela pilha de roupas em cima da cama: você entende a bagunça, mas ela ainda é uma bagunça. Entendem?

O desenvolvimento dos personagens, todavia, foi o ponto alto desse livro para mim. O autor conseguiu criar pessoas complexas e conflituosas. E não ache que estou falando dos pacientes do hospital. O verdadeiro problema está dentro da família do pequeno narrador. Um pai excelente quando se trata de teoria, mas terrível na prática. A mãe que resolve tudo dentro de seu lar, organiza cada detalhe, mas não está satisfeita com seu papel. Dois irmãos mais velhos que possuem talentos, se dedicam a eles, mas só fazem maldades com o caçula. E, claro, o nosso protagonista que possui problemas de aprendizado e tem diversos ataques de fúria por isso. Mas que, mesmo assim, tenta lidar com tudo. 

"Andei pela casa e encontrei meus pais dormindo juntos em uma cama. Meu pai tinha colocado o braço ao redor da minha mãe. A cabeça dela estava deitada em seu peito. Nunca os tinha visto tão juntos, tão próximos."

Diferente da história pesada que eu esperava, é uma obra leve e cheia de emoções. O autor consegue abordar bem a profundidade de cada personagem; pegar suas perdas e saudades, e transformá-las em lembranças. Além disso, através da vontade em compreender as coisas ao seu redor e encarar a lenta desconstrução de sua família, conseguimos perceber o adulto maduro que o protagonista se torna aos poucos. 

Claro que a história está longe de ser perfeita, mas isso não a impede de ser agradável e muito menos, de que você se apegue a cada detalhe dela. E, principalmente, não impede que você se sinta parte da família. 



Beijos Literários!!

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