Cartas de Amor aos Mortos - Ava Dellaira

12:20 Helena Dias 2 Comments

Livro: Carta de amor aos mortos
Autora: Ava Dellaira
Editora: Seguinte
Páginas: 344
Ano: 2014
ISBN: 9788565765411




Sinopse: Tudo começa com uma tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. Logo o caderno de Laurel está repleto de mensagens para Kurt Cobain, Amy Winehouse, Janis Joplin, Heather Ledger... apesar de jamais entregá-las à professora.
O que parecia uma simples lição de casa logo se torna a maneira que Laurel encontra para lidar com seu primeiro ano na escola nova e com a família despedaçada após a morte de sua irmã.

[Nota Pessoal]

Assim que li a sinopse desse livro, me encantei por completo. Os artistas para quem Laurel escreve suas cartas são pessoas que eu também admirava (admiro até hoje, na verdade). Então, fiquei super ansiosa para ler. E foi na Black Friday que eu finalmente adquiri o meu exemplar.

No início do livro, a protagonista é uma personagem insegura, bem ingênua e até bastante infantil. Porém, a autora soube mostrar, de uma forma espetacular, como essa menina foi amadurecendo e se tornando uma garota forte e corajosa, até sair da sombra de sua falecida irmã, May, e nos conquistar por sua fragilidade. Tudo foi acontecendo de uma forma natural, depois que Laurel recebe como tarefa escolar escrever uma carta para alguém que já morreu.

Do começo ao fim, o livro é narrado em forma de cartas, o que é apenas mais um detalhe que torna esse livro lindo demais. Mas, Laurel não escreve para May, que morreu em circunstâncias misteriosas para o leitor até, pelo menos, metade do livro. Ela escreve sobre May.  Laurel escrever para ídolos que a inspiram, que morreram de formas variadas e que fizeram parte de sua infância com May. Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Amelia Earhart, Jim Morrison, Judy Garland são alguns dos presentes nessas lindas e emocionantes cartas. Através desse dever de casa, ela encontra uma forma de desabafar, uma forma de falar dos acontecimentos em sua vida, seus sentimentos, suas dores e etc. Além de tentar explorar e entender o que se passava na vida desses para quem ela escreve.

"Às vezes suas músicas dão a impressão de que existia muita coisa dentro de você. Talvez você nem tenha conseguido colocar tudo para fora. Talvez tenha sido por isso que morreu." p.11 (Primeira carta de Laurel para Kurt Cobain)
É ridiculamente bonito como a autora apresenta o relacionamento entre Laurel e May. É emocionante ver como elas se entendiam, se protegiam e, acima de tudo, se amavam. Elas tinham seu próprio mundo secreto, seu mundo mágico. As cartas sem endereço têm questionamentos sobre a vida da protagonista que se entrelaçam intimamente com o histórico dos artistas com quem ela se corresponde. Existe uma ligação. Ao mesmo tempo que conhecemos erros e acertos na vida desses ícones, também vivemos, com Laurel, seu presente e passado. A autora consegue fazer reflexões, interpretar sentimentos e situações e levantar temas um tanto polêmicos.

Os personagens da trama são outro aspecto positivo desse livro. São muito bem construídos, são fortes, complexos e reais. Os novos amigos de Laurel não sabem o que aconteceu com sua irmã, não a conhecem muito bem. Aliás, acho que todos ali vão se conhecendo com o decorrer da história. Posso afirmar que Natalie e Hannah protagonizam cenas tão emotivas e tensas quanto as de Laurel; quase as considerei protagonistas também. Elas são amigas que se amam. A descoberta sexual das duas é linda e tocante. Mais que sexual, elas descobrem quem realmente são quando estão juntas.

"As histórias mudam conforme crescemos. Às vezes elas não fazem mais sentido. Eu queria escrever uma nova história, em que Hannah só fica com Natalie, May volta para casa e eu nunca tento ser como ela, mas fiz tudo errado." p. 223

Outro ponto que é bastante tocante e revoltante ao mesmo tempo é a família de Laurel, que está em pedaços. Não só emocionalmente, mas geograficamente também. O pai, apesar de carinhoso, não parece ter muito jeito para conversar com a filha, mantendo certa distância. A mãe, por sua vez, resolveu sair de casa, afirmando que precisava de espaço; de um tempo. (WTF?)
Dessa forma, Laurel tem que se dividir entre a casa da tia e a do pai, guardando consigo a culpa e a dor pela morte da irmã. Não há distância que diminua a dor de se sentir abandonado.

De forma gritante, o livro nos ensina que não existe perfeição. Até a mais talentosa das estrelas pode desabar a qualquer momento. Muitas delas desabaram, deixaram de brilhar aqui e foram iluminar outros céus. Perderam a força? Ou foram fortes demais? De quanta força precisamos para suportar os fatos da vida? Persistir, sem pensar em desistir. Cartas de amor aos mortos é um livro que eu recomendo sem pestanejar. É um livro que, de certa maneira, te ajuda a viver.

"Senti que algo entre nós mudou de posição, como as placas tectônicas na Terra. Você acha que conhece alguém, mas essa pessoa sempre muda, e você também está em transformação. De repente entendi que estar vivo é isso. Nossas próprias placas invisíveis se movem em nosso corpo, e se alinham à pessoa que vamos nos tornar." p. 307/308
 

Beijos Literários!

2 comentários:

  1. Lena, adorei a resenha!

    Esse me chamou a atenção assim que foi lançado, e com suas palavra fiquei mais curioso ainda, um livro que tem uma tragédia, mas ao mesmo tempo, que transmite um força muito bonita. E tendo ainda o fato que ´narrado através de cartas a grandes personalidades(Que confesso não conhecer muitas), isso sim que é algo inovador.

    Parabéns!!

    http://lendoferozmente.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada, Luan!! Que bom que gostou!!
      Espero que leia em breve, pois é um ótimo livro!!

      Beijos.

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