Stranger Things - 1ª Temporada
Série: Stranger Things
Criação e Direção: The Duffer Brothers
Temporada: 1
Temporada: 1
Episódios: 8
Elenco Principal: Winona Ryder, David Harbour, Finn Wolfhard, Millie Bobby Brown, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, Natalia Dyer, Charlie Heaton, Joe Keery.País: EUA
Ano: 2016
Canal: Original Netflix
Sinopse: Hawkins, Indiana - 1983: Stranger Things conta a história de Will Byers, um garoto que desaparece ao voltar para casa. Com o início das investigações para encontrar o garoto, uma série de mistérios envolvendo experimentos ultrassecretos do governo, forças sobrenaturais aterrorizantes e uma garotinha muito estranha começam a ser revelados.
[Nota Pessoal]
Em 1982 (um ano antes do qual se passa a série), Steven Spielberg fez seu nome na indústria cinematográfica ao apresentar para o mundo E.T. - O Extraterrestre, a história de um alienígena que se perde da Terra e faz amizade com um garotinho. Tamanho foi o sucesso do filme que ele passou a ser grande referência cultural e forte influenciadora de muitas obras por aí.
Stranger Things, nova produção original da Netflix, é um grande exemplo de como essas referências ainda existem e são utilizadas até os dias atuais. O fato é que obras que se sustentam em influenciadores facilmente reconhecíveis tendem a gerar desconfiança. Entretanto, Stranger Things não só assume como também reverencia e respeita suas inspirações, o que, a meu ver, salva a série em muita coisa.
Em seus oito episódios a série se passa nos anos 80, mais precisamente em 1983, trazendo o cenário e a atmosfera perfeitos para a toda a trama. Não estou falando apenas de roupas, cabelos e aparelhos daquele período. O mais importante é o que essa época representa culturalmente para a ficção científica e a fantasia dentro dela. Além de Spielberg se fazer muito presente na série também podemos perceber alguns toques de Stephen King, de filmes, como A Hora do Pesadelo e Star Wars, e tudo que simboliza o universo paralelo dos jogos de RPG.
Quando eu assisti aos trailers da série, lembrei imediatamente de Super 8, que também tem referências dos trabalhos de Spielberg. Conforme fui assistindo cada episódio, percebi que talvez isso caracterize uma espécie de base para o que vai acontecer no decorrer da trama. E a história, aparentemente simples no início, vai tomando ramificações capazes de prender quem assiste e aumentar a sede pelo que vai acontecer a seguir.
Tudo começa quando o Will (Noah Schnapp) desaparece ao voltar para casa, após mais uma partida de Dungeons & Dragons com os amigos Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin). Os garotos não são mais criancinhas, porém também não são adolescentes ainda, não chegaram naquela fase que mata parte da nossa ligação com o imaginário. Por isso, eles mergulham de cabeça no mundo paralelo que criam todas as noites nos jogos, e isso é um alicerce para todos os eventos que darão sequência ao desaparecimento de Will, o que destaca nos meninos aquele clássico papel de Spielberg: a evolução do nerd perdedor para o nerd herói.
Simultaneamente ao desaparecimento de Will, Eleven/Onze (Millie Bobby Brown) foge de um tipo de laboratório de experimentos e esbarra com os garotos. Ela permanece escondida na casa de Mike e mantém um disfarce para sair da casa, exatamente como Elliot fazia com seu amigo de outro planeta. A garota é o ingrediente que faltava para unir todos eles na luta para encontrar o amigo perdido. Em E.T., a criatura é quem detém os poderes sobrenaturais que ajudam nos momentos de apuros, já em Stranger Things essa função é de Eleven/Onze, que salva os meninos de diversos problemas causados por esse senso descuidado de heroísmo.
Logo no início, a série já nos mostra que teremos histórias paralelas acontecendo por ali. Essas divisões me pareceram ser apenas elementos de distração para o que estaria por vir. Vamos ser apresentados à vida melancólica e ao sentimento de culpa do Xerife Hopper (David Harbour), ao triângulo amoroso entre Nancy (Natalia Dyer), Jonathan (Charlie Heaton) e Steve (Joe Keery) e até mesmo ao núcleo do laboratório do Dr. Brenner (Matthew Modine). Porém, a sensação de que tudo aquilo ali é desnecessário vai sendo desconstruída conforme cada personagem é empurrado direto para a trama principal, nos levando a concluir que nada ali é desperdiçado.
Adorei o equilíbrio entre a inocência, representada pelo quarteto de crianças, e o cético, formado por Nancy, Jonathan, Hopper e Joyce (Winona Ryder), nessa busca por Will. Aos poucos, esse olhar incrédulo do segundo grupo é atingido pelas coisas estranhas que os rodeiam, transformando a relação deles com o mundo ali dentro da série. Uma das maiores características nas obras de Spielberg é a salvação de seus personagens por meio do lúdico ou do idealismo, e Stranger Things segue isso à risca.
Os elementos de terror, salpicados com pitadas de Stephen King, ajudam muito a construir a tensão presente no clima da história. Desde a fonte usada no título da série e seus episódios até o estilo da vinheta; dos filmes citados à trilha sonora maravilhosa, as características de suspenses do mestre do terror são bem evidentes. Tudo em Stranger Things é uma referência clara, direta e assumida. Isso não é algo que se torna incômodo por correr o risco de parecer uma cópia. Pelo contrário, faz de toda a série algo bem especial. E o que mais me impressionou foi a maneira coesa e elegante com a qual os irmãos diretores conseguem casar cada episódio.
O elenco infantil é o melhor dessa série sem sombra de dúvidas. Apesar de Winona e David serem os atores experientes que dão todo o crédito à produção, a referência e força que mais importam em todo o enredo está no papel desempenhado por essas crianças maravilhosas: amizade. É nessa inspiração que me peguei lembrando de um grupo de crianças tão sensacionais quanto as de Stranger Things, um grupinho maravilhoso que deu brilho a minha infância: Os Goonies. E adivinhem de quem é esse filme? Se você pensou que eu ia dizer Steven Spielberg... Está certíssimo! Muitas referências, gente!!
Somente uma coisa me incomodou na série toda. Apesar de ter gostado muito de como foi construída e trabalhada e de como cada episódio é importante para o desenvolvimento da história, acho que a série poderia ser reduzida em uns três capítulos. Como eu disse, todos os episódios acabam sendo importantes para o plano geral da trama, mas alguns deles poderiam ter seus assuntos introduzidos e encaixados facilmente em outros momentos de outros episódios; não precisavam de um capítulo inteiro somente para aquele assunto.
Enfim...
Stranger Things tem um texto que entrelaça citações, teorias científicas, dados reais e supostos que tomam forma aos poucos e no tempo certo. O cuidado nessa criação é tão evidente que qualquer coisa errada, por menor que pudesse parecer, seria de fácil percepção e correria o risco de virar um deslize, transformando essa linda série sobre amizade em uma produção B de péssima qualidade. Ainda bem que os irmão Duffer aguentaram o tranco e trouxeram para a Netflix mais uma pequena produção, carregada de muito amor pelo lúdico, pela ficção científica e pelos anos 80. <3
Beijos Cinematográficos!!
*-* #OlhinhosBrilhando Tinha esquecido de como você escreve maravilhosamente bem Helena! Amei a série também! \o/
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